Alguém já parou para pensar porque nossas salas de aulas, pelo menos a imensa maioria, têm uma estrutura física tão tradicional? Se nós fecharmos os olhos logo imaginamos o quadro à frente, uma mesa de professor ao lado no quanto e as carteiras todas enfileiradas. Mas é este mesmo o melhor arranjo que se pode ter em uma sala de aula? A pergunta é tão atual quando as novas instituições de ensino que proliferam pelo país, mas ainda mantém uma estrutura conservadora de organizar os recursos físicos de ensino como o ambiente das salas de aula.
De fato temos um histórico e não podemos negar que a questão é cultural e vem deste as Aulas Régias dos jesuítas, passa pela presença esmagadora do positivismo em nossa cultura, com sua conseqüente divisão e classificação das ciências que só contribuíram para elitizar o ambiente acadêmico. Até o engessado modus operandi de organizar e operar das instituições militares, com suas influências nas nossas vidas durante os anos de ditadura no Brasil e com reflexos até hoje.
O tradicional arranjo das salas de aula não ajuda em nada os princípios básicos de democracia e liberdade de expressão. Durante anos ele serviu a elitização do ensino, à valorização da autoridade e a discriminação. Tempos em que o formato das salas atendia ao ensino rígido, proporcionavam aulas que seguiam os livros a risca e, em nada, promoviam a criação e a arte.
Preste a atenção nos filmes americanos que mostram suas instituições universitárias e observe as salas de aula. Normalmente, são construídas na forma de pequenos anfiteatros, como o desenho de uma ferradura. Os alunos estão num plano superior, acima do professor. Virados de frente um para o outro. Com o professor ao centro. O objetivo é proporcionar a coordenação das atividades, promover as discussões e as atividades em classe. Transmitir conhecimento é função dos livros. Fica para o ambiente da classe a construção do conhecimento através das discussões e dos embates acadêmicos.
Para os administradores este tipo de arranjo do tipo ferradura é chamado de arranjo físico celular. É claro que o jeito americano de ensinar não deve ser referência para nós brasileiros. Mas por que não admitir as boas idéias. É possível que este aspecto do ensino possa ajudar a promover a qualidade do ensino no Brasil. O foco muda. A prioridade passa para o exercício da capacidade de raciocínio, para o debate, a discussão, a solução de conflitos, a ação construtiva. Quem sabe um dia com a prática de olharmos de frente os colegas, com o exercício da troca de idéias, da resolução prática dos problemas, constitua uma nova postura que substitua os tradicionais paternalismos típicos na cultura e na política do brasileiro.
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